segunda-feira, 24 de novembro de 2014

desconhecidos

Desconhecer-se é um hálito da vida que nos seduz
Reconhecer o desconhecimento de si é uma virtude que nos conduz à futura sabedoria
Quando dizemos: "estou me desconhecendo"
É um passo dado à luz de si mesmo, é perceber a incapacidade do nosso racional captar-nos por completo
É admitir a amplitude e infinidade de nossas expressões pessoais, que são consumidas e construídas num ciclo que a cada era parece passar mais rápido
Permitir desconhecer-se é abdicar de uma identidade construída - fruto de uma pressão externa
É transcender o externo que te oprime, sucumbindo à uma viral semente que irradia latente em nós
Gérmen desconhecido, nos dá medo
Fizeram-nos temê-la
O medo nos afasta de nós mesmos
E ele nada mais é do que essa distância de si
Desbravar o universo interno é uma caminhada sem volta
Deparar consigo mesmo é avistar uma pequena terra de uma ilha que jamais será esquecida
Aventurar internamente é preciso, é a virtude para a alquimia
Já estamos de couraça sob a alma, somos viajantes medrosos
temos um véu a retirar, um breu para iluminar, uma toca a adentrar...
conhecemos marte e o medo, não a nós mesmos...


sábado, 8 de novembro de 2014

porta-retrato

E de repente aquela dor que parecia me matar
agora não dói mais, não me machuca
é insossa, apenas uma foto manchada de sangue
nada mais cheira
nada de pontiagudo,
estridente ou áspero
nada mais fere
nada mais.
trouxas são os loucos,
chamados assim pelos reais doidos
que não mostram seu coração

barro

E o sertão chegou aqui
a estiagem me abraçou secamente
...pele rachada, áspera
não me feriu, mas despertou a aridez
levou a moiada emoção daqui de dentro
o riacho tá contido
as moringas estão vazias
e eu...
eu choro o pó vermelho
quase o meu sangue
meu sangue
minha moringa