domingo, 27 de dezembro de 2015

eu sou

Se não existisse o dinheiro, quem você seria?


Essa é uma questão forte, mexe comigo.É uma pancada na cabeça! Após o torpor que essa indagação causa, a vista volta da escuridão para a realidade suavemente, embora que ainda sem destino.

metamorfo

E num caminho linear entre o eixo dos planos não há escapatória
o beco da vida é calabouço e paraíso
álbum da vida - tatuagens, as cicatrizes
a minha tinta é o sangue que escorre deflagrando a dicotomia vital
que num pulso mais pesado me levaria ao óbito
e na medida ideal, me traz à vida
venenosamente santo
santifico-me serpente
na catedral de ossos
trocando a pele a cada dança
a cada visceral gemido
me reponho em vida com a cicuta em minha boca
nos olhos, a distancia
na ponta da presa, nada temo
no fim do caminho

horizonte

domingo, 13 de dezembro de 2015

auê

Sinto uma leve confusão com a idéia de escrever. Me surgem uma maré revolta de pensamentos que estão ouriçados para romper o mundo da mente e vir à realidade tão quanto um espermatozoide que sonha em fecundar o óvulo para continuar vivo.
Agora como estou é assim: com fome de escrita, cheio de ideias e sem um meio de evacua-las plenamente. Na dúvida do que fazer, me concentro nesse murmurinho, nessa fila de assuntos que brigam entre si pela oportunidade de ser atendida.

onde



Quando conversamos com alguém pela primeira vez trocamos algumas perguntas, todas elas estão no mesmo pacote e têm o objetivo comum: desvendar quem é o sujeito. Não importa como somos, nossos trejeitos, nossos gostos e preferencias, sempre haverá um onde, um cenário. Os romances precisam de um lugar. A lua carece do mar para embriagada se escorar em luz.

Os lugares são produtores de dimensões infinitas que amontoam sobre si cada instante, cada segundo, a cada milésimo de vida que escoa, que é dita, provada, implodida. Compõem-se assim cada aura desses lugares com as energisa depositadas alí. Os palcos onde encenamos nossa juventude são mágicos, eles possuem o encantamento próprio que proporcionam a cura. Nós triunfamos além das dimensões e acessamos à nós mesmos em diversas fases e cenas, lá no meio da areia, cá dentro de si.

Alquimicamente nascidos por impulsos biologicos-nervosos, químicos-hormonais, naturalmente psicodélicos, navegamos inesperadamente no invisível caminho da lembrança deixada inconscientemente, sem intenção. É essa ausência de propositalidade que me indica que as grandiosas ódisseias acontecem em dias intencionalmente comuns e não ficarão apenas para Homero, mas para toda a eternidade.






quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

gobelet

Ultimamente tem sido tempos difíceis, ao menos diferentes dos dias mais radiantes que vivi, é assim que nós, meros mortais, costumamos lidar ou nomear essas constrições do cotidiano.
Eu costumo escrever poesias, é uma forma de desafogar. Uso o subjetivismo como escudo para me proteger, parábolas, metáforas... os sensíveis entendem, contudo acredito, hoje, que os escudos também são máscaras e eu cansei delas.

Eu tenho acordado com a ânsia de remover tudo aquilo que cubra quem de fato eu sou.  Quero me drogar de liberdade, me pôr além das cercas: em poema um sincero.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

à mim

Querido eu do passado, aqui quem vos escreve sou eu daqui do presente, pode e deve parecer confuso, mas é assim que me encontro também. Decidi escrever algo, porque talvez os próximos eus façam a caridade de carrega-las consigo como quem traz uma herança que fará sentido em algum momento e quando este chegar alguém de mim entenderá.
Hoje, passado que será, deposito em ti a crença de alguns sonhos, me entristeço de passar esse fardo à diante, embora talvez tivesse que ser assim, talvez tivesse que haver uma carta e uma sucessão de portadores e leitores dela, mas enfim.
Em algum momento oportuno espero que esta que escrevo lhes seja cara e te lembre dentre toda a infinidade de coisas novas daí do futuro, inclusive as recordações nostalgicas dentre as quais não sei se farei parte ou ficarei esquecido aqui no fundo.
O sonho ainda vive. Encontra-te, encontre-me e viva.
Não morri, mas sei que o peso do céu hoje é nublado, e o sol vai sair já já. Pode durar algumas horas, podem levar aguns dias, ou meses, ou semestres, ou anos, entretanto chegará. E quando fizer-se chegar o momento, você estará aí em alguma dimensão dinamicamente acertada para a concretização das aspirações, chegará.
De qualquer forma ponho aqui o desejo de vir à tona e propor um desfeche de mim, a conclusão deste fragmento que faço agora, apesar de que pela janela não vejo ainda se sou sujeito ou objeto disso tudo que passa neste quarto de mundo.
Temia que as conjunções verbais mudassem, as linguas morressem, as tramas soltassem, mas não. Não temo, eu vós entrego e como quem ora à uma divindade, permito que haja, não em fuga, não em ópio, mas em fé, em esperança, que não morreu, nem morrerá...
Não se sinta mal ou pressionado a cumprir, mas passe a carta com a mesma fé que a escrevo e vos entrego. Me despeço por aqui, e aguardo a visita que espero resignado  em cada momento que vou perdendo a cor e me torno passado, pretérito, empoeirado  em um espaço de uma estante acessível só àqueles que são permitidos.


Um abraço um pouco estranho, mas muito familiar,

eu.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

bem-(v)indo

Eu olho pro tapete, pra porta de entrada e hesito, sem medo,  só para dar uma respirada e de peito duro entro forte, como sou. Forte não por mim, tenho fé, tenho axé.
E por mais que as cruzes estejam pregadas na sala de (não)estar, não importa, eu vou sobreviver, são as mesmas da rua, eu já as vi. Não caio, não me acanho e se faço, me reergo, tenho raízes pra me manter vivo.
Quem me encontra na rua, não sabe. Eu ando na rua e vocês não sabem. Vocês me poem na rua e não sabem, mas eu.. Eu? Eu caminho em frente, cada passo. Às vezes me disfarço pra sobreviver. Peito forte eu tenho, já disse, não vou morrer assim fácil, como o medo insiste dizer. Não, não vou.



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

volta

De volta à casa
Fora do paraíso
Não há gente na casa
Há mais alguem por aqui
Há quem vai partir em breve
Há medo da chuva parar lá fora
De chover aqui dentro
De molhar mais uma vez
O ar já esta úmido
A partida
Eu partido
Fração de dor
Fragmentado nos cômodos
E quem abrir a porta talvez não entre
Mas não a tranco
E se faço, você já sabe
A chave tá de baixo do tapete




quarta-feira, 7 de outubro de 2015

mel bem

um sopro quente ao meu redor, me amoleco abro a guarda fechada
sorrindo me derreto nessa brisa que eu já conheço de onde vem
e de forma orgástica me deleito inconsequente
deitado nesse vão de incertezas
sem pensar em nada eu vou topando
e de olhos bem abertos, vou fechando com sua voz de algodão,
mel levo
e pra quem nao
eu sim

sábado, 3 de outubro de 2015

´´

verá-o, vê quem quer, verá-si,
quem-tinta, me, pinta, vera-me, me, só-me, sem sumir, ó-aqui, ó-me
Ao mesmo tempo que posso explicar e justificar todas as suas acusações e falsos pensamentos, eu tenho preguiça. É uma mistura da minha vontade de fugir e não crer no que ouvi com um choro guardado no peito.
Fico paralisado, duro. Se trinco, inundo.
E do que há guardado em mim: de sentimentos à um grito, talvez um dia nunca saiba. Talvez nem eu mesmo queira te mostrar.

fluxo

Tem gente no hospital, tem gente na rua, tem gente na praça, tem gente que vai, tem gente que não volta.
É na fila da loja, no posto de gasolina, alguém que foi buscar uma carteira de cigarro para nunca mais.
Há quem fume e morra em casa, há quem não fume e morra a cada dia...
 dentre todos os movimentos, nesta manhã me deparou com os contrastes do amor, os dois pólos, da vida  à morte.
Falo do canto da vida física, limitada, talvez, mas falo de onde estamos, na carne, na terra, matéria.

Assim como a moça que foi na mercearia e não voltou, ou como o ônibus que foi e voltou, ou aquilo que partiu e nos deixou, apenas há incerteza...
O tráfego do cotidiano, o trafego da atipicidade que forma esse caos organizado, dedilhado, onde cada um carrega o seu fluxo e interpassa por outros numa cavidade cardíaca. Não voltar é caminho, morrer também é vida.

Repare bem no que eu não digo.
Lembre-se que o silencio também é musica.
Posso estar andando ao teu lado e o amor me declamar sobre as pedras portuguesas
Ou talvez, possa ser que no caminho da rua o baile pare e eu espere você vir me buscar.
Atente.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

erês


lavais


12:05

a atemporalidade me abandonou
ganhei um relógio
cinco horas da manhã
levanto
espio o ponteiro
espio o sol
que ponto cheguei?
sentado na cama
5 horas da manhã
a cama ainda bagunçada
árduo tic tac
tiroteio de segundos
me derrubou novamente na cama
levanto
doze horas
meu presente
meio-dia
um crash
ponteiros libertos
mais meio-dia
outra metade
eu-inteiro

amor(te)

as paredes que engoliam os gemidos de prazer, nesta noite de chuva choram lagrimas de saudade
o fogão vibra com os urros do céu
a sua chama esta fraca - há pouco gás, escapou 
é o meu rádio que compadece ao meu sofrer 
noite longa 
noite fria 
noite intempestiva
esta casa grande, os corredores sem ar, a busca indeterminada por algo que já vi por ali e sei que não mais está. 
flagelo escolhido,
dor embebida num prazer estranho,
  tudo em mim 
me envolvo nu no lençol, como faríamos
vago descalço no chão morto que se suicidou quando não achou mais os teus pés quentes 
flutuo na erraticidade do teu abandono 
espero a morte que não chega 
espero que encontre-a antes de mim

domingo, 19 de abril de 2015

sensi

Acreditar que tudo o que sinto é transcrito é falácia. Posso deixar umas pistas um borrão, uma carta escrita com caligrafia tremida, mas por mais que tente, nada me garante que a totalidade do sentimento está ali disposto e claro. Prefiro acreditar que por mais longo que seja o que tente dizer, nada passará de um caminho que deve ser percorrido por tua sensibilidade. Nem todos se dispõem a rega-la, por isso acredito nas incompreensões. Sensível mesmo é ir alem dos sentidos, é atingir o que era intangível ao cotidiano, é observar o que se esconde por detrás do breu. A facilidade não é marca, os labirintos estão aí como desafios que escondem possíveis tesouros. Percorrer os labirintos alheios é sensibilidade. Eles foram construídos com as vivências individuais por propósitos distintos e diversos. É interessante vê-los como obras de arte que contemplam uma historia particular regada de derrotas e vitórias, mas solidas diante da vida. São labirintos vivos em plena construção e fragmento, permitem se esconder sob rostos e couraças. Esses encantados emaranhados são cobertos muitas vezes na carta escrita, no desenho feito, ou no borrão esboçado com desesperança. Vê-los é um dom inerente à todos, mas desperto por poucos, basta acreditar em mágica.

deus que me abençoe



eu ando roubando cenas
plagiador dos quadros da vida
falsifico essa luz
são essas luzes que guardo
não é crime, eu acho
e se for heresia
Deus que me perdoe
eu já tô preso
e se tiver piedade
Deus que me solte
nesta prisão subverto
guardo os olhares
deus que me prenda
o tempo corre, como eu
e se puder, roubarei as grades
para ver tudo o que puder
e verei a liberdade
que se esconde no horizonte
no horizonte
lá longe
silêncio, por favor
estou gritando, não vê?
me ouça, estou dançando
murta
cheira
chuva
jasmim do mato
não mato, definho
no ninho
definho-te de fininho
não sou do mato
sou a água
capacho
da chuva
crua
que te afoga sem perceber
não vê?

domingo, 1 de março de 2015

simbolismo do amor


Em cada gesto não se esconde, como dizem
Singularmente um gesto transborda amor
Embalsamar os lábios enamorados é missão dos símbolos mais genuínos e individuais
O que proporciona tontura ou reflete tolice à outrem, traduz a falta de sensibilidade
O analfabeto sensível que não sabe desvendar os enigmáticos do sentimento
Não é necessário o estudo acadêmico, visto que amor é horizontal, vertical são os seus antônimos
À todos esta disposto o teu encanto, contudo os despercebidos deixam com que passe como gravura da paisagem
Enquanto é o núcleo do quadro, o porto e o barco. É o mar.
Se dentro da simplicidade vivessem os altivos da paixão, estaríamos embriagados sem destino, encantados simplesmente
A candura do toque, afagos de alma, o navegar sem rumo, as poesias tortas, o brilho nos olhos, o deslumbre.
O amor e o mar.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Tentativa

Calei me inconformado com o que ouvia
Dentre os surdos, tive que me fazer mudo
Não por dever, mas por preservação pessoal
Poupar me de algo inútil-
Conclusão empírica, sem dúvida
Os escárnios e escarceis absurdos
Envolviam a galhofa regada a ignorância
A estupidez, estava alí
O cheiro de estragado estava ali
A babaquice condensada em gargalhadas intragáveis
Me enjoou
Me enoja
Me enjoara
Destilei meu asco em versos para não vomitar com esse prato cheio de nada
Que a mim foi empurrado goela abaixo
Eu não o permiti
Me foi indigesto
Mesmo assim peço licença
À pobreza de muito
Preciso me retirar, as náuseas me tomaram e preciso dormir