segunda-feira, 20 de abril de 2015

erês


lavais


12:05

a atemporalidade me abandonou
ganhei um relógio
cinco horas da manhã
levanto
espio o ponteiro
espio o sol
que ponto cheguei?
sentado na cama
5 horas da manhã
a cama ainda bagunçada
árduo tic tac
tiroteio de segundos
me derrubou novamente na cama
levanto
doze horas
meu presente
meio-dia
um crash
ponteiros libertos
mais meio-dia
outra metade
eu-inteiro

amor(te)

as paredes que engoliam os gemidos de prazer, nesta noite de chuva choram lagrimas de saudade
o fogão vibra com os urros do céu
a sua chama esta fraca - há pouco gás, escapou 
é o meu rádio que compadece ao meu sofrer 
noite longa 
noite fria 
noite intempestiva
esta casa grande, os corredores sem ar, a busca indeterminada por algo que já vi por ali e sei que não mais está. 
flagelo escolhido,
dor embebida num prazer estranho,
  tudo em mim 
me envolvo nu no lençol, como faríamos
vago descalço no chão morto que se suicidou quando não achou mais os teus pés quentes 
flutuo na erraticidade do teu abandono 
espero a morte que não chega 
espero que encontre-a antes de mim

domingo, 19 de abril de 2015

sensi

Acreditar que tudo o que sinto é transcrito é falácia. Posso deixar umas pistas um borrão, uma carta escrita com caligrafia tremida, mas por mais que tente, nada me garante que a totalidade do sentimento está ali disposto e claro. Prefiro acreditar que por mais longo que seja o que tente dizer, nada passará de um caminho que deve ser percorrido por tua sensibilidade. Nem todos se dispõem a rega-la, por isso acredito nas incompreensões. Sensível mesmo é ir alem dos sentidos, é atingir o que era intangível ao cotidiano, é observar o que se esconde por detrás do breu. A facilidade não é marca, os labirintos estão aí como desafios que escondem possíveis tesouros. Percorrer os labirintos alheios é sensibilidade. Eles foram construídos com as vivências individuais por propósitos distintos e diversos. É interessante vê-los como obras de arte que contemplam uma historia particular regada de derrotas e vitórias, mas solidas diante da vida. São labirintos vivos em plena construção e fragmento, permitem se esconder sob rostos e couraças. Esses encantados emaranhados são cobertos muitas vezes na carta escrita, no desenho feito, ou no borrão esboçado com desesperança. Vê-los é um dom inerente à todos, mas desperto por poucos, basta acreditar em mágica.

deus que me abençoe



eu ando roubando cenas
plagiador dos quadros da vida
falsifico essa luz
são essas luzes que guardo
não é crime, eu acho
e se for heresia
Deus que me perdoe
eu já tô preso
e se tiver piedade
Deus que me solte
nesta prisão subverto
guardo os olhares
deus que me prenda
o tempo corre, como eu
e se puder, roubarei as grades
para ver tudo o que puder
e verei a liberdade
que se esconde no horizonte
no horizonte
lá longe
silêncio, por favor
estou gritando, não vê?
me ouça, estou dançando
murta
cheira
chuva
jasmim do mato
não mato, definho
no ninho
definho-te de fininho
não sou do mato
sou a água
capacho
da chuva
crua
que te afoga sem perceber
não vê?