sexta-feira, 6 de novembro de 2015

à mim

Querido eu do passado, aqui quem vos escreve sou eu daqui do presente, pode e deve parecer confuso, mas é assim que me encontro também. Decidi escrever algo, porque talvez os próximos eus façam a caridade de carrega-las consigo como quem traz uma herança que fará sentido em algum momento e quando este chegar alguém de mim entenderá.
Hoje, passado que será, deposito em ti a crença de alguns sonhos, me entristeço de passar esse fardo à diante, embora talvez tivesse que ser assim, talvez tivesse que haver uma carta e uma sucessão de portadores e leitores dela, mas enfim.
Em algum momento oportuno espero que esta que escrevo lhes seja cara e te lembre dentre toda a infinidade de coisas novas daí do futuro, inclusive as recordações nostalgicas dentre as quais não sei se farei parte ou ficarei esquecido aqui no fundo.
O sonho ainda vive. Encontra-te, encontre-me e viva.
Não morri, mas sei que o peso do céu hoje é nublado, e o sol vai sair já já. Pode durar algumas horas, podem levar aguns dias, ou meses, ou semestres, ou anos, entretanto chegará. E quando fizer-se chegar o momento, você estará aí em alguma dimensão dinamicamente acertada para a concretização das aspirações, chegará.
De qualquer forma ponho aqui o desejo de vir à tona e propor um desfeche de mim, a conclusão deste fragmento que faço agora, apesar de que pela janela não vejo ainda se sou sujeito ou objeto disso tudo que passa neste quarto de mundo.
Temia que as conjunções verbais mudassem, as linguas morressem, as tramas soltassem, mas não. Não temo, eu vós entrego e como quem ora à uma divindade, permito que haja, não em fuga, não em ópio, mas em fé, em esperança, que não morreu, nem morrerá...
Não se sinta mal ou pressionado a cumprir, mas passe a carta com a mesma fé que a escrevo e vos entrego. Me despeço por aqui, e aguardo a visita que espero resignado  em cada momento que vou perdendo a cor e me torno passado, pretérito, empoeirado  em um espaço de uma estante acessível só àqueles que são permitidos.


Um abraço um pouco estranho, mas muito familiar,

eu.