domingo, 28 de setembro de 2014

(B+b).h


Geometria



E essa geometria sinuosa do mundo que me ronda
me assusta com suas simetrias pitagóricas
seus conceitos quadrados...
...apenas bailo dentre as formas
como quem toca e retoca as arestas sem cor
Debaixo desses lados há um pouco mais de vida
e nessa dança vou atrás da bendita
dessa arisca
dessa arriscada
riscada
isca
vida

Sobre a noite passada...

A alegria da rua somos nós!
Dentro da festa sinuosa os desníveis da rua eram o gingado e a dança – puxa e traz
Claves no chão a quem se dispusera correr num samba de sobriedade
Capoeira, dendê, gente desconhecida, gente mais que conhecida
Como o farrapo nobre que baila nas garrafas, as medidas me desconcertavam
As luzes me inclinavam aos tombos coreografados
Olhos perdidos dançavam procurando a farra sob a égide do céu estrelado, do mar que cantava o chocalho das sereias
Fomos a farofa da noite que a brisa dispersou sobre as cabeças ocas
Somos brincadeira cigana em cada canto
O molejo volátil, etilizado pela noite fria, que não parava de esquentar
E tomou vida própria...
Os táxis pararam
Atrapalhamos o transito
Os postes nos saudaram
As calçadas desnudas, imundas, empoladas de lixo
SORRIRAM...
E sorrimos de volta
Sambamos
E demos mais voltas sem chegar ao fim
Quem precisava do fim quando se sambava a vida
Ainda somos a vida da rua
O riso da meia noite
A gargalhada dos bares
A silhueta suada
A agonia da vigilância
Fomos e somos a sumidade à beira-mar
Cantos roucos de alegria
Olhos frouxos imaculados da esbórnia
Fechamos a noite sem findar
E sem haver qualquer discórdia
ainda esta estamos lá.
É só procurar...

Sem título



Escrevo os poemas pensando no fim deles
eles são como estorinhas que contamos às crianças
Nascem do nada e vão-se ao nada
Mas acho que todas as coisas são assim.
Assim como os meus poemas, nascem do nada e voltam pro nada
Essas idéias vagueiam por aí e as dou corda, bastante mesmo
Muitas delas saem e voltam sem mesmo perceber, fazem uma farra la fora e voltam cínicas pros seus lugares
Assim como eu - cínico, sonso
Ideias tão minhas, chega me assusto. Sabe?
Essas astutas e espelhadas são esquisitas
Esquisitas como eu!
Nossa! Que ciclo chato!
Ciclo não, os ciclos se movem no eixo...
Eu não tenho eixo e nem saí do lugar,
continuo na minha estorinha, no meu poema.
Vou fazer de conta que nunca saí do lugar
Fingirei que nunca escrevi nada
Voltarei dissimulado, como quem nada fez - o usual
E sorrirei ao me perguntarem sobre o que pensei quando escrevi isso.
Nada.